Meus Textos
Batalhas Internas
junho 24, 2015
Texto Postado inicialmente no meu wordpress em 18-03-2012.
Ela estava deitada, encolhida em posição fetal na vã
esperança de que isso diminuísse a dor que sentia por dentro. Suas lágrimas
agora escorriam livremente pela face retorcida, os olhos estavam brilhando, mas
não da maneira habitual, refletiam as gotículas que se acumulavam alagando sua
íris. Uma represa parecia ter sido rompida, rachaduras de um coração dolorido.
Um hibrido de soluço e gemido em protesto por tudo que estava sentido saiu de
seus lábios.
Uma risada zombeteira ecoou em seus ouvidos, A visão
turva pelas lágrimas não deixava que ela visse mais que os contornos de uma
silhueta na escuridão, mas ela precisava mais que isso. Podia sentir a presença
da criatura divertindo-se com seu sofrimento, deliciando-se a cada vez que ela
engasgava-se no próprio choro.
– Vá embora. – tentou fazer com que sua voz soasse
firme, mas o tom não passou de uma lamuria esganiçada.
– Ir embora? Justa agora que tudo está ficando
divertido? – respondeu a Senhora Saudade, diferente da voz da garota a
dela soava firme, sarcástica e austera como nenhuma outra. – Não é todo dia em
que temos uma bela moça totalmente sem sua armadura, ao bel prazer de meus
golpes. Será que é tão ingênua de pensar que eu simplesmente viraria as costas
e iria embora?
– Seria muita piedade. – uma segunda voz
resolveu se pronunciar. Essa tinha um timbre dubio, outrora podia parecer
agradável, mas não quando estava na companhia da primeira. A garota
levantou o rosto, mirando a figura que por vezes jugara agradável. – Não
me reconhece? – perguntou a Distância.
Senhora Saudade gargalhou, sabia muito bem que a
garota a reconhecia, eram velhas conhecidas.
– Porque se juntar a ela? – a garota ainda teve forçar
para perguntar.
– Não posso deixar uma amiga na mão quando precisa de
mim não e? – respondeu num tom suave, paciente, quase como se explicasse para
uma criança.
A garota assentiu voltando a se controlar em seu
choro, sentia os golpes da mão pesada da Saudade arderem sobre sua pele. Não
conseguia se mover, mas nem por isso a outra se deixou abalar, parecia que
quanto mais a pobre definhava mais ela se divertia. É claro que se divertia,
era uma sádica, as dores dos outros eram seu mais precioso passatempo.
A menina já estava pronta para o baque final,
conseguia visualizar seu corpo cheio de hematomas estirado no chão sem
movimentos. Fechou os olhos e esperou ser atingida, suplicando baixinho para
que fosse rápido e indolor, embora ela soubesse que isso era uma mera ilusão de
sua debilitada mente. No entanto ao invés de sentir a pancada ouviu foi
um grito.
– Deixe-a.
– Porque está aqui? Ninguém lhe chamou!
Abriu os olhos assustadas. A Senhora Saudade estava
longe, a mão esfregando um braço com marcas de queimadura. Limpou os olhos para
absorver direito o que via. Um homem alto e belo estava parando a frente da
mulher que lhe agredira antes. Embora tivesse um rosto belo, sorriso e
olhos que lhe passavam estrema tranquilidade a sua voz saiu firme e áspera
quando respondeu.
– Como se você tivesse crédito para me censurar por
aparecer sem ser convocado. – ele estava impassível.
– Tenho que terminar o que comecei. – falou
desvairada.
A Saudade ainda sorriu, parecia refém de sua própria
loucura, levantando-se e impeliu o corpo rumo a menina que se encolheu
novamente temendo pela dor. Mas, novamente, não sentiu nada. Os braços do homem
lançaram facilmente o corpo da outra contra a parede. Ela levantou-se meio
tonta, olhando para os lados, procurando apoio da Distância, mas essa havia
partido sem que ninguém percebesse. Sua presença ainda era sentida, mas era
tolerável.
Sem ter mais o que fazer a Saudade esgueirou-se saindo
dali. Mas não sem antes proferir que voltaria. Ao ouvir isso um tremor
passou pelo corpo dolorido da menina. Teria caído no choro novamente, não
fosse o doce par de olhos negros que a confortavam.
Ele a segurou a pegou no colo, tirando as folhas que
sujavam suas roupas e a levou para uma choupana perto dali. A menina ainda
choramingava, mas estava sentindo-se um pouco melhor. Ele a posicionou em um
sofá e começou a limpar suas feridas.
– Que… Quem… É você? – perguntou agora mais calma.
– Faz tanto tempo assim que não nos vemos? Não
acredito que já se esqueceu de mim! – perguntou com um sorriso um pouco
triste.
A menina arregalou os olhos, aquele tom de voz, ela o
reconhecia. Como pudera esquecer?
– Senhor Conforto! – disse ela, o olhar iluminando-se.
– Já disse para não me chamar de Senhor. Sinto-me um
ancião inútil assim. – fingiu-se injuriado, embora seu sorriso condescendente e
suas duas covinhas delatasse seu real humor.
Novas lágrimas surgiram no rosto da menina, mas dessa
vez não era por algo ruim, ela estava feliz por tê-lo encontrado, seu sorriso
demonstrava isso. Ele cuidou dela, seus hematomas não demoraram a melhorar. E
quando a garota pode ficar de pé novamente ele instruiu-a de algumas artimanhas
da Saudade, preveniu-a para quando ela voltasse novamente, pois ambos sabiam
que ela cumpriria sua palavra.
Mas quando o momento chegasse, se ela caísse novamente
não seria tão fácil como na primeira vez. Além disso, caso isso ocorresse os
dois sabiam que ele iria aparecer e cuidar da garota mais uma vez, tornando a
forte por mais quantas batalhas fossem necessárias. Ela tinha fé de que um dia
iria vencer, não só a Saudade, mas como a Distância. E, enquanto o dia da tão
esperada vitória não chegasse só lhe restava lutar e tornar-se mais forte cada
vez que se se levantava de uma dura queda.
N/A: Tomei conhecimento desse estilo de
estória com personificação de sentimento através do blog Tulipas Lilas (By: Aimee Lee) hoje
precisava escrever algo e as cenas vieram desse jeito a minha mente, então
thanks a Aimee por me apresentar esse tipo de narração, é uma boa
terapia.
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