Batalhas Internas

Texto Postado inicialmente no meu wordpress em 18-03-2012 . Ela estava deitada, encolhida em posição fetal na vã esperança de que i...

Texto Postado inicialmente no meu wordpress em 18-03-2012.


Ela estava deitada, encolhida em posição fetal na vã esperança de que isso diminuísse a dor que sentia por dentro. Suas lágrimas agora escorriam livremente pela face retorcida, os olhos estavam brilhando, mas não da maneira habitual, refletiam as gotículas que se acumulavam alagando sua íris. Uma represa parecia ter sido rompida, rachaduras de um coração dolorido. Um hibrido de soluço e gemido em protesto por tudo que estava sentido saiu de seus lábios.
 Uma risada zombeteira ecoou em seus ouvidos, A visão turva pelas lágrimas não deixava que ela visse mais que os contornos de uma silhueta na escuridão, mas ela precisava mais que isso. Podia sentir a presença da criatura divertindo-se com seu sofrimento, deliciando-se a cada vez que ela engasgava-se no próprio choro.
 – Vá embora. – tentou fazer com que sua voz soasse firme, mas o tom não passou de uma lamuria esganiçada.
 – Ir embora? Justa agora que tudo está ficando divertido? – respondeu a Senhora  Saudade, diferente da voz da garota a dela soava firme, sarcástica e austera como nenhuma outra. – Não é todo dia em que temos uma bela moça totalmente sem sua armadura, ao bel prazer de meus golpes. Será que é tão ingênua de pensar que eu simplesmente viraria as costas e iria embora?
 –  Seria muita piedade. – uma segunda voz resolveu se pronunciar. Essa tinha um timbre dubio, outrora podia parecer agradável, mas não quando estava na companhia da primeira. A garota levantou  o rosto, mirando a figura que por vezes jugara agradável. – Não me reconhece? – perguntou a Distância.
 Senhora Saudade gargalhou, sabia muito bem que a garota a reconhecia, eram  velhas conhecidas.
 – Porque se juntar a ela? – a garota ainda teve forçar para perguntar.
 – Não posso deixar uma amiga na mão quando precisa de mim não e? – respondeu num tom suave, paciente, quase como se explicasse para uma criança.
 A garota assentiu voltando a se controlar em seu choro, sentia os golpes da mão pesada da Saudade arderem sobre sua pele. Não conseguia se mover, mas nem por isso a outra se deixou abalar, parecia que quanto mais a pobre definhava mais ela se divertia. É claro que se divertia, era uma sádica, as dores dos outros eram seu mais precioso passatempo.
 A menina já estava pronta para o baque final, conseguia visualizar seu corpo cheio de hematomas estirado no chão sem movimentos. Fechou os olhos e esperou ser atingida, suplicando baixinho para que fosse rápido e indolor, embora ela soubesse que isso era uma mera ilusão de sua debilitada mente.  No entanto ao invés de sentir a pancada ouviu foi um grito.
 – Deixe-a.
 – Porque está aqui? Ninguém lhe chamou!
 Abriu os olhos assustadas. A Senhora Saudade estava longe, a mão esfregando um braço com marcas de queimadura. Limpou os olhos para absorver direito o que via. Um homem alto e belo estava parando a frente da mulher que lhe agredira antes. Embora tivesse um rosto belo,  sorriso e olhos que lhe passavam estrema tranquilidade a sua voz saiu firme e áspera quando  respondeu.
 – Como se você tivesse crédito para me censurar por aparecer sem ser convocado. – ele estava impassível.
 – Tenho que terminar o que comecei. – falou desvairada.
 A Saudade ainda sorriu, parecia refém de sua própria loucura, levantando-se e impeliu o corpo rumo a menina que se encolheu novamente temendo pela dor. Mas, novamente, não sentiu nada. Os braços do homem lançaram facilmente o corpo da outra contra a parede. Ela levantou-se meio tonta, olhando para os lados, procurando apoio da Distância, mas essa havia partido sem que ninguém percebesse. Sua presença ainda era sentida, mas era tolerável.
 Sem ter mais o que fazer a Saudade esgueirou-se saindo dali. Mas não sem antes proferir que voltaria. Ao ouvir isso um tremor passou  pelo corpo dolorido da menina. Teria caído no choro novamente, não fosse o doce par de olhos negros que a confortavam.
 Ele a segurou a pegou no colo, tirando as folhas que sujavam suas roupas e a levou para uma choupana perto dali. A menina ainda choramingava, mas estava sentindo-se um pouco melhor. Ele a posicionou em um sofá e começou a limpar suas feridas.
 – Que… Quem… É você? – perguntou agora mais calma.
 – Faz tanto tempo assim que não nos vemos? Não acredito que já se esqueceu de mim! –  perguntou com um sorriso um pouco triste.
 A menina arregalou os olhos, aquele tom de voz, ela o reconhecia. Como pudera esquecer?
 – Senhor Conforto! – disse ela, o olhar iluminando-se.
 – Já disse para não me chamar de Senhor. Sinto-me um ancião inútil assim. – fingiu-se injuriado, embora seu sorriso condescendente e suas duas covinhas delatasse seu real humor.
 Novas lágrimas surgiram no rosto da menina, mas dessa vez não era por algo ruim, ela estava feliz por tê-lo encontrado, seu sorriso demonstrava isso. Ele cuidou dela, seus hematomas não demoraram a melhorar. E quando a garota pode ficar de pé novamente ele instruiu-a de algumas artimanhas da Saudade, preveniu-a para quando ela voltasse novamente, pois ambos sabiam que ela cumpriria sua palavra.
 Mas quando o momento chegasse, se ela caísse novamente não seria tão fácil como na primeira vez. Além disso, caso isso ocorresse os dois sabiam que ele iria aparecer e cuidar da garota mais uma vez, tornando a forte por mais quantas batalhas fossem necessárias. Ela tinha fé de que um dia iria vencer, não só a Saudade, mas como a Distância. E, enquanto o dia da tão esperada vitória não chegasse só lhe restava lutar e tornar-se mais forte cada vez que se se levantava de uma dura queda.


 N/A: Tomei conhecimento desse estilo de estória com personificação de sentimento através do blog Tulipas Lilas (By: Aimee Lee) hoje precisava escrever algo e as cenas vieram desse jeito a minha mente, então thanks a Aimee por me apresentar esse tipo de narração, é uma boa terapia. 

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