Meus Textos
Dois caminhos
novembro 23, 2011
Depois
de quase cinco anos eu estava de volta a minha cidade. As coisas pareciam um
pouco diferentes, prédios e ruas que eu não me lembrava, pessoas novas, antigos
conhecidos que se tornaram completos estranhos.
A combinação desses fatores tornou aquela primeira semana um pouco
confusa. Consegui entrar em contato com dois amigos do colégio, mas não
consegui manter conversa por muito tempo. Certo assunto ainda era delicado de
se falar, e os dois insistiram no tema, me fazendo arrumar uma desculpa para
voltar ao meu apartamento.
Na sexta
feira a tarde finalmente consegui tirar das caixas última coisas que faltavam e
colocá-las em seu lugar. Já estava entardecendo quando resolvi dar um pulo numa
pizzaria do shopping, o antigo, mas ainda freqüentado, ponto de encontro da
galera. Pensei em ligar para um dos caras, mas achei melhor fazer uma surpresa.
Então, simplesmente tomei um banho e segui para o local.
O Shopping
estava apinhado de gente, era final de ano, já devia esperar por isso. Dei uma
volta pela praça de alimentação, no entanto não vi nenhum rosto conhecido.
Decidi dar uma volta pelo shopping, às garotas viviam arrastando seus
respectivos namorados pelas lojas de departamento hora em busca de algum adorno
para o próprio guarda roupas, hora tentando convencer um de nós a trocar
aqueles jeans velhos por uma peça da estação. Ri alto ao me lembrar disso,
pouco me importando com os olhares inquisidores que se recaíram sobre mim.
Meia
hora dando voltas por aquele formigueiro de pessoas e meu animo decaiu
consideravelmente. Não consegui encontrar ninguém, então decidi ir embora.
Atravessei um dos corredores em direção ao estacionamento, mas no meio do
percurso minhas pernas fincaram-se ao chão. Uma mulher com um sorriso
encantador destacava-se por entre os rostos desconhecidos. O tempo havia-lhe feito bem, a menina esguia
que um dia conheci agora era uma mulher, cuja silhueta bem desenhada preenchia
graciosamente o vestido de lã branca que usava. As coxas curvilíneas pareciam
firmes, mesmo escondidas pelo fino tecido de sua calça marrom e botas beges. O
cabelo, agora grande, estava amarrado para trás num rabo de cavalo simples,
deixando seu rosto livre.
A única coisa
que se mantinha a mesma era sua expressão, ainda era leve e de um sorriso que
ainda me fazia rir só de olhá-la. HeeYoung observava uma sacola pequena com um
desenho de solzinho na lateral. Um sorriso traquina denunciando que iria
aprontar alguma coisa. Ela observou as pessoas que estavam pelo local, presumi
que estivesse procurando uma das amigas para compartilhar a nova aquisição. Ri
novamente, me lembrando de quando ela passava horas por aquelas lojas, me
deixando louco quando chegava em casa carregada de sacolas. Mas bastava um
sorriso infantil e aquela carinha de gata pidona para eu esquecer qualquer
sermão por excesso de consumismo.
Comecei
a caminhar em sua direção no intuito de surpreendê-la, mas antes que pudesse me
aproximar suficientemente um homem de cabelos castanhos e estatura mediana, que
estava sentando em uma das mesas da “área verde” do shopping levantou o braço
acenando. Ela foi até ele, sendo recebida com um breve beijo. Estatelei no
lugar, então era sobre aquilo que meus amigos tentaram me avisar. Minha Younggie
já não estava mais sozinha, aquele seria seu namorado?
O sangue
pareceu sumir do meu corpo, e como se já não estivesse tendo surpresas
desagradáveis demais por um dia, senti mais um golpe em minha alma. Enquanto
observava as mãos que se entrelaçavam sobre a mesa um brilho, que para mim
parecia fantasmagórico. chamou minha atenção. As alianças na mão esquerda dos
dois gritavam uma verdade ainda mais grave do que eu imaginara. Eu realmente a
havia perdido.
Enquanto
meu mundo desabava sobre minha cabeça o rapaz se divertia tentando alcançar a
sacola misteriosa, meus olhos meio fora de foco ainda conseguiram captar a
imagem dele tentando distraí-la com mordidas em seu pescoço. HeeYoung ria
tentando manter as mãos longe das deles, estava se divertindo. Minha mente
vagou por memórias de nós dois em situações parecidas com a que eu via,
lembrando-me do quanto ela sentia cócegas quando eu mordia-lhe o pescoço. Meu
coração apertou quando me lembrei disso, e, minha consciência tacou-me na cara
a decisão que havia tomado, anos atrás, em prol de uma nova vida nos Estados
Unidos, uma remuneração alta, e garantia de sucesso profissional. Contudo esses
fatores que pareciam tão atrativos para mim não foram o suficiente para
convencê-la de ir comigo, dando fim ao nosso namoro que completaria quatro anos
uma semana depois, data essa em que eu a pediria em casamento.
Ainda
mantivemos contato por algum tempo, mas aos pouco, com minha falta de tempo
pelo trabalho, e o ultimo ano de faculdade de HeeYoung, nós fomos nos
afastando, até o momento em que paramos de ter noticias diretas um do outro.
Apesar das distancia, e de todas as bocas que provei, corpos que passaram por
minha campa, ainda assim, eu não a havia esquecido. Mas vejo que fui o único
tolo a me prender ao passado.
Continuei
a observar o casal, acho que aprendi a ser masoquista. HeeYoung se levantou e
correu em direção a uma espécie de coreto de onde podia-se observar as carpas
do pequeno lago que ficava no centro daquela espécie de praça. Os dois ficaram
observando o movimento das águas por alguns segundos até que ela finalmente
revelou o conteúdo da sacola misteriosa. Eram dois pequenos pedaços de lã azul
que foram colocados nas mãos de seu marido. Odiei pensar na palavra, parecia
ainda pior, quem dirá se fosse pronunciada.
O homem
a encarou confuso, talvez eu estivesse ainda pior, Younggie simplesmente
sorriu-lhe e passou as mãos sobre a barriga, num abraço protetor. Minha boca se
escancarou ao compreender o que estava acontecendo. Enquanto isso o outro
explodia em alegria, puxando sua esposa para um abraço, girando-a no ar e
beijando-lhe a face por todos os lados. Curiosos pararam para observar e
entender o ocorrido, quanto a mim apensas deixei que lágrimas corressem
livremente por meu rosto.
– Eu vou
ser pai – finalmente o homem conseguira por em palavras as emoções que já
estavam expressas em sua face.
Ele
estava fulgurante, como se estivesse se sentido o cara mais sortudo da face da
terra. O que eu não poderia discordar, já que a mulher mais excepcional que
conhecia lhe daria um filho. Enquanto algumas pessoas perdem as chances que a
vida lhes dá, outras a aproveitam, e dão muita sorte. Olhei para o rosto que
assombrara meus sonhos nos últimos anos, ela parecia realizada, apaixonada e radiante.
Talvez por isso eu não conseguisse sentir tanto ódio quanto desejava daquele
homem. Ele a estava fazendo feliz, proporcionando a ela a realização do sonho
de ser mãe e ter um esposo que a amava, e essa ultima parte estava bem clara
nos olhos dele.
Respirei
fundo e limpando o rosto, mirei a cena uma ultima vez, dando-lhes as costas. Eu
não podia mais prender-me ao passado. Os
lábios que um dia foram meus, que me amaram, agora pertencem a outra pessoa.
Ela havia seguido sua vida e encontrado a felicidade, agora era a minha vez de
tentar encontrar meu próprio caminho.
N/A: Em primeiro lugar não me matem por esse final, eu sei que todo mundo – inclusive eu – tem preferência por finais felizes e tal. Mas se essa estória já estava atazanando minha mente á uma semana quase. Era só os acordes de In My Bed aparecer no mp4 para as cenas começarem a se formar na minha mente, e ontem (22/novembro) em plenas duas da madrugada lá foi eu fazer o esboço dela, porque novamente estava sendo atormentada. Hoje cheguei do cursinho digitei, e cá estou as 03:05 da manhã escrevendo essa nota. Então espero que gostem da estória, porque apesar do final triste é um drama bonitinho. Pelo menos eu achei. Agradecimento a minha Eomeoni Sensei por me ajudar com o nome do coreto, que eu não lembrava nem com reza brava, e a Pryska essa diva que me faz ter mais vontade de escrever.
P.S. O titulo ta ruim, mas foi o único que consegui pensar.
6 comentários
Será que vou ser considerado um alienígena se disser que gostei do fim? Pode não ser um dos mais felizes, mas foi o mais real. Acho que existem histórias que não dá para fantasiar.
ResponderExcluirO texto está divino como sempre. Já disse, já repeti, volto a repetir e repetirei quantas vezes for necessário: O que você está esperando para escrever o seu romance???
Acho que existem histórias que não dá para fantasiar.
ResponderExcluirConsegui exprimir o que tava pensando enquanto fazia esse final.
E respondendo a pergunta, preciso de uma história boa e com um feeling novo e de pesquisas, no caso daquele projeito fantasioso que te disse XD
Adorei... tudo, o texto o final...ta perfeito...
ResponderExcluirAmo ter que conhecido e ter visto sua escrita crescer. Na verdade, eu não tenho certeza se foi isso ou se foram meus olhos que se abriram mais para o que você escreve.
ResponderExcluirSou chata com escritores, mas não costumo pegar no pé. Comecei a ler a Percy Jackson e achei a escrita do autor “não tão boa assim” (tipo, ruim)! Juro que estava começando a considerar Best Seller uma boa leitura. (Colocando como nota que eu ainda estou lendo e a história é legal, vou esperar pra ver se vale mesmo a pena. Estou torcendo pra que sim. ^^ )
Mas quando estava lendo pensei “Mas gente, a Pryh escreve melhor que esse cara!”. A história não é ruim, mas a escrita não é essa coisa linda que a sua é. Não me venha com o fato dele ser um escritor profissional e você não, de ser um gênero diferente, porque coisas boas são coisas boas e ponto final.
Senti falta disso que você tem de sobra. Dessa estrutura bem feita da história, dessa cuidado com a descrição e preocupação em passar a sensação do momento.
Andei lendo alguns livros de literatura fantástica, escrita criativa, escolas literárias e estruturas de textos, durante esse tempo que fiquei sem internet. Então, quando ia lendo, puxava na mente os textos que tinha lido recentemente e tenho que te dizer que você deveria seguir.
Seu texto agora é uma prova pra mim, usou a estrutura direitinho, mudando de parágrafo somente quando a sensação ou a ação terminou o sentido. Tomou cuidado de deixar a leitura mais agradável com isso, deixando o visual do texto atrativo também.
O final não foi triste, acho que foi bem desenvolvido. Como a história foi muito bem definida, com começo, meio e fim, [e reflexão final] ficou parecendo mais uma crônica que um conto. O título está perfeito, ainda bem que você colocou ele, porque dá a sensação de que eles pensavam que eram feitos um para o outro, namoraram quatro anos e seguiram dois caminhos diferentes. Define muito bem!
Mas tem algumas coisas que poderiam melhorar. Voltando a te comparar ao Rick Riordan (escritor do Percy Jackson), o que não tem muito a ver, mas serve para exemplificar: Ele sabe tornar a história algo solto, algo relaxado e gostoso, sem ser demasiado vazia.
Sua escrita está ficando cada vez melhor, suas histórias cotidianas estão uma delícia de ler, mas enxergo uma coisa que você precisa evoluir: Tornar a história mais consistente.
Ela está um pouco vazia, um pouco presa. Era isso que estava sentindo e não tinha percebido. O que acontece é que você transmite o personagem, transmite a história, mas começa a ficar presa do meio pro final, mostrando um clichê sem surpresas... Bom, mas sem expectativa.
Minha sugestão é que você coloque um pouco mais de ação do meio pro final. Faça assim, escreva a histórica como você sempre faz, então depois que estiver pronta, modifique do meio pro final colocando um pouco mais expectativa para o final (modificar não significar trocar as cenas, mas algum gesto ansioso, algumas frases ligando os acontecimento com um pouco mais de feeling). A finalidade não é tornar o final diferente ou surpreender com algo inesperado, mas dar ansiedade pra quem está lendo.
Acho que isso é mais uma experiência pra ver se é isso mesmo do realmente uma solução.
Bem, é uma sugestão. Sem querer dar uma de morde-assopra (sempre dou uma de morde-assopra... ¬¬’), mas só querendo te mostrar o quanto você melhorou, é maravilhosa e que ainda tem alguns pontos (que vamos percebendo conforme você evolui) que podem tornar tudo ainda melhor!
ResponderExcluirSempre tenho cuidado com o que vou falar pra quem escreve, mas você sabe que me sinto livre pra dizer as coisas pra você né? Então não me ache metida por estar sempre me intrometendo e please, escreva mais dessas histórias curtas que saem da sua mente. Estou amando essa sua fase e está mostrando mais e mais uma ótima escritora. Assim vai ser fácil voltar para DI né?
Ai, adoro quando meu nick, nome, citação por indireta ou subconsciente, aparece nas suas notas! *O* ~ Você me faz manter a vontade escrever, me faz sentir vontade de ler mais narrativas (minhas leituras preferidas são teorias, artigos, socioculturais... essas coisas.), se um dia eu me tornar escritora de narrativa, você tem uma parcela enorme, porque só penso nisso porque você está aí escrevendo e mostrando esses textos e... Você é demais.
Saber que provoco algo parecido me deixa emocionada.
Te amo, entendeu? Te amo!
Saranganda ~ Sinto sua falta. t.t
;♥
P.S. Li com Happy Ending do Mika e ficou show de bola... *O* [ http://bit.ly/bfsX08 ]
Desculpa mas eu tenho que falar. Se o Rick Riordan por ventura lê-se isso ele ia te bater por compará-lo a uma principiante.Enfim, a resposta:
ResponderExcluirEu sinceramente tenho dificuldades em saber quando devo mudar parágrafos e essas coisas, as vezes fico meio perdida, acho que preciso de treino. E ler um pouco mais de livros técnicos. Nesse eu fui relendo e organizando mais ou menos do jeito que achava que ficaria legal e tal.
cuidado com a descrição e preocupação em passar a sensação do momento. acho que não existe uma narrativa sem você mergulhar nela. Um autor as vezes é meio que um ator, tem que sentir o personagem pra poder transmitir direito o que ele ta sentindo. Só tento fazer isso.
Como a história foi muito bem definida, com começo, meio e fim, [e reflexão final] ficou parecendo mais uma crônica que um conto. Confesso que nunca soube muito bem a diferença entre os dois. Mesmo tendo lido textos sobre isso. Sou lerda sim, eu sei.
Acho que acabei dando sorte com o título, pensei em outros até mais esse parecia “menos pior”
Sobre os pontos a serem melhorados, primeiro, muuuito obrigada pro sempre apontar meus erros, acho que sem isso não tem como eu melhorar, porque é meio tenso de achar alguns erros que eu não consigo ver enquanto escrevo.
Ta agora, sobre tornar mais solto e vago, seria mais algo como criar um pouco de suspense do meio/final? Tipo, tava aqui pensando que as vezes as estórias ficam objetivas demais, seria isso?
E já disse que vc não é nem metida nem intrometida, a um bom tempo já disse que gosto de criticas construtivas, e de sinceridade sobre os textos.
Acho que vou continuar com a faze de contos por um tempo indeterminado ainda XD e sim ando com mais animo pra DI, o que me lembra do próximo capitulo. Sua mamis precisa deixar vc voltar pra net logo FATO!
Eu so vivo agradecendo as suas super dicas, e vc tbm me passa essa mesma sensação! Não so quando nos falamos mais quando leio suas estórias, então continue escrevendo, e eu quero um livro seu apanha/
E vc que é demais
Bjus
SARANGHAEYO minha diva linda!
Miss You Too =(